O ministro da Economia e Planeamento de Angola, Mário Caetano João, está em Paris para reuniões com as autoridades gaulesas e promoção de um encontro entre empresários franceses e angolanos para dar força ao sector não petrolífero.
Tendo já passado pela República Checa e pela Alemanha nos últimos dias, o ministro da Economia e Planeamento presidiu em Paris ao colóquio “Why Angola? 2023”, que reuniu empresários franceses e angolanos, e onde o ministro diz querer promover o sector não petrolífero, teoria que o MPLA (partido no Poder há 48 anos) apresenta desde que Angola lhe foi oferecida pelos comunistas portugueses.
“A França não podia estar fora deste périplo por causa das relações diplomáticas excelentes e, do ponto de vista económico, estamos a ir atrás, tentar diversificar esta relação económica que tem um pendor muito forte sobre o sector petrolífero, mas queremos dar mais força ao sector não petrolífero. Sem, no entanto, deixarmos de acelerar o sector petrolífero”, explicou (com o brilhantismo que se lhe reconhece) Mário Caetano João, em declarações à Lusa.
Segundo o governante, a visita de Emmanuel Macron a Luanda no início de Março veio solidificar a vontade de aprofundar ainda mais a relação económica entre os dois países, apostando agora no agronegócio. Será que, ao contrário do seu próprio patrão, Mário Caetano João sabe que os franceses plantam as couves com a raiz para baixo?
“Temos uma importação muito importante de produtos agro-alimentares vindos de França, mas a França está cada vez mais a acreditar no nosso mercado e está convencida que a próxima fronteira é o agronegócio. Isto é algo que o Presidente Emmanuel Macron demonstrou na sua visita a Angola. Isto faz-nos acreditar que a França tem uma intenção séria”, declarou.
Entre as prioridades do executivo angolano em França está “uma maior proximidade com a diáspora angolana”, uma relação “mais próxima” com as autoridades francesas e os operadores económicos gauleses.
GOVERNO ACELERA EM… PONTO MORTO
O Governo angolano antecipa um crescimento económico de 3,5% entre 2023 e 2027, impulsionado pela tal mirífica diversificação económica, sobretudo pelo agronegócio que vai contar com um financiamento de 3 mil milhões de dólares.
Os números foram revelados pelo ministro da Economia e Planeamento, Mário Caetano João, quando falava à margem do evento “The Angolan Development Roundtable” onde participaram líderes de empresas e responsáveis do executivo angolano e de instituições públicas.
“Estamos a prever crescer pelo menos 4,6% no sector não petrolífero e entre 0,5% a 1% no sector petrolífero”, indicou, acrescentando que isto não significa uma desaceleração dos investimentos no sector petrolífero, mas sim um “acelerar da diversificação”.
O governante sublinhou que o motor dos próximos anos será o investimento no agronegócio, através de linhas de financiamento do Banco de Desenvolvimento de Angola.
Estão já aprovados o Planagrão (Plano Nacional de Fomento para a Produção de Grãos) com cerca de 500 milhões de dólares por ano e um montante equivalente para as infra-estruturas e acessos às áreas de produção e o Planapescas (Plano Nacional de Fomento das Pescas), para o qual o executivo vai canalizar 300 milhões de dólares.
O Governo está também a trabalhar num plano para a pecuária que irá contar também com 300 milhões de dólares, nos próximos três anos, para apoiar a produção animal e derivados, anunciou Mário Caetano João.
No total são mais de 3 mil milhões de dólares, incluindo infra-estruturas públicas, que o executivo chefiado por João Lourenço promete fazer chegar ao sector privado para posicionar Angola entre os principais produtores agrícolas africanos.
“Nunca tivemos um investimento maciço como este no agronegócio”, destacou, acrescentando que os planos não foram desenhados apenas tendo em conta os distintos sectores, mas com uma abordagem transversal.
O ministro espera que os planos ajudem a colocar Angola nos lugares cimeiros da produção agrícola em África, já que o país tem, sempre teve, várias vantagens comparativas como a baixa densidade populacional e abundância de recursos hídricos.
“Acreditamos que em cinco anos podemos estar entre os principais produtores de grãos (milho, soja, trigo e arroz), sendo que o milho e a soja formam 95% dos ingredientes para ração animal”, impulsionando também a pecuária e as pescas, frisou o responsável.
Quanto às queixas dos empresários sobre as dificuldades no acesso à banca considerou que “foi necessário criar procedimentos para salvaguardar o bom uso dos recursos” para não repetir erros do passado, bem como trabalhar com o sector privado que demonstra “pouca maturidade” nos seus projectos.
“Estamos a ajudar a transformar projectos emocionais em projectos racionais”, declarou Mário Caetano João.
O ministro realçou que a contribuição actual do sector petrolífero para a economia é de 27%, representando dois terços das receitas e cerca de 95% das exportações pelo que continua a ser um motor importante da balança de pagamentos, mas espera-se que o peso relativo diminua nos próximos anos pelo efeito de aumento da actividade do sector não petrolífero.
Folha 8 com Lusa